Viagens são como banquetes para a sensibilidade e a inteligência. Com a diferença de que nos banquetes antigos se podia dispor de dias para apreciar os requintes, e nas viagens de hoje freqüeutemente se tem de compactar a apreciação de séculos cm poucas horas.
Dada a ambição de nosso programa, memos de reduzir a poucas horas nosso encontro com o Nôh e o Kabuki, dois pólos clássicos do teatro japonês que guardam religiosamente suas características tradicionais. Aquele, exprimindo o máximo de economia de recursos; este, esgotando toda a exuberância de expressões. Sc ao Nôh cabe a designação de "missa japonesa", ao Kabuki se poderia chamar tie autêntica farra nipòni-ca. Ambos insuperáveis em seu estilo, com aquele sc entra em comunhão mística; neste, tivemos de enxugar gotas de um mar-de-mentira que um nadador estabanado propositadamente borrirava do palco sobre a platéia.
Na arquitetura, instalações e tudo mais, permanece o contraste. Há no Kabukiza de Tokyo um completo bazar de souve-nirs, comidas, uma quase quermesse popular. No prédio do Nòli, discretas vitrinas e balcões, como de joalheria.
O programa não nos permitia mais tie uma hora cm cada casa, quando um espetáculo completo é um seriado de vários dias. Etretanto, a compactação é possível, tal a força de impacto dos lugares e seus espetáculos.
A simples arquitetura do teatro Noh é uma lembrança in delevel Impossível alcançar-se com tanta sobriedade tanta majestade tranqüila. Há uma grandeza de palácio e uma paz de templo em seus imensos e despojados vcstíbulos e espaços de circulação. Mal cruzamos suas portas e nos envolve seu pathos, somos insensivelmente levados ao silencio, ao recolhimento, e transportados para a íntemporalidade. Não me recordo de outro interior capaz de falar tanto com sua mudez, envolvente. Lembrei-me da catedral de Colônia e da abadia de Westminster em Londres — mas com o eleito oposto de que o "além" nipònico e luminoso, e não sombrio.
Do Kabukiza se sai rindo ou chorando, dependendo da peça, porque lá tudo pode acontecer. Bastam os erros e gafes involuntários, que disparam sereias, para nós inaudíveis, mas que transformam os japoneses em enfermeiros ou bombeiros correndo em nosso pronto-socorro para restabelecer a ordem devida e repor tudo em seu respectivo lugar.
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