A visão de que num pais rico como o Japão a vida é carae dificil pode ser deduzida da comparação objetiva de dados. Contudo, não abrangi- toda a verdade. Não dá conta do que os japoneses sentem a respeito, nem dos benefícios que tiram dessa riqueza. Pela limitação de seus recursos o Japão foi sempre pohre. os japoneses sempre estiveram acostumados li um intenso trabalho, a sobriedade foi sempre uni de seus característicos. A .sua moda, hoje aproveitam uma riqueza que ainda não tinham conhecido. Além de certo consumismo e de uma discreta... ostentação, é claramente visível uma satisfação e bem estar econômicos de toda a população. A prosperidade não impõe, entretanto, o desperdício, nem a riqueza obriga ao relaxamento e ã indolência. Os japoneses não se comportam como novos-ricos. mas como antigos, pobres que alcançaram a abundância, continuam economicamente sérios e austeros, como geralmente são nas outras coisas.
Embora a riqueza do pais seja o lato que mais salta ã vista, a força mais importante que aciona sua economia e sustenta seus mercados e o grau que a distribuição de renda alcançou no Japão.
O que explica a riqueza, a fartura, a pletora de outra forma inconcebível dos depato é que todos os japoneses tèm acesso a eles Nada é caro quando se pode pagar os preços, e quando a renda é suficientemente distribuída todos podem pagá-los. O fato mais importante da economia japonesa não e tanto a riqueza de sua produção, mas a fartura de sua distribuição: e esta que explica o escoamento daquela, em poucos países o abstrato indite de renda média per capita está mais peno tia renda concreta que cabe por cabeça a cada japonês. Indicado res das pequenas diferenças tie remuneração existentes entre diretores tie empresa e o mais modesto empregado e entre as diversas categorias profissionais tal vez façam tio Japão a nação que em todo o mundo alcançou o maior grau de democratização da riqueza O Japão não é apenas unia nação com 60 milhões de produtores: é. sobretudo, uma nação com 125 milhões cie consumidores com rendas altas muito semelhantes.
Ainda em Tokyo, li no Japan Times a notícia de que o Japão alcançara a maior renda per capita do mundo, com USS 23.022, contra USS 21.022 da Alemanha Ocidental, USS 18.163 dos Fstados Unidos e USS 13.39s) da Girã-Bretanha. Em matéria de poder aquisitivo, que define o nível de vida. estava entretanto em 3" lugar, abaixo dos listados Unidos e da Alemanha Ocidental. Em outras palavras, os estudiosos confirmam por números um falo que entra pelos olhos.
A questão é tão mais intrigante por ler uma lace paradoxal. Não é só o país que e rico: o japonês é o homem que mais ganha no mundo e o Japão é o país onde a renda se acha melhor distribuída. Morita popularizou mundialmente a verdade que 95% dos japoneses são classe média. Não há salário mínimo, mas o mínimo dos salários está por volta de 250.000 yens mensais (USS 2.000). Não vi senão dois pedintes no Japão, e não eram mendigos: um era um monge budista que fizera voto de pobreza e outro, aparentemente, um excêntrico que, sentado em uma calçada da Cinza, cantava baixinho canções nipònicas com uma cuia de esmolas à frente...
Em Osaka, pedi e fui ver um bairro pobre. Não corresponde ã noção que temos de pobreza apesar de seu evidente decaimento. Do presidente da maior empresa ao seu office-boy (se existe tal coisa) a diferença de salários é de ~ vezes apenas — 15 a 20 nos Fstados Unidos e na Europa. A renda familiar média está por volta de 500 mil yens. O padrão de vencimento de um médico é de 725 mil yens; o chefe de secção ganha 422 mil yens. Têstemunhou-me um casal de professores universitários com dois filhos adolescentes que os filhos de um casal de jardineiros competem (com vantagem contra os seus) em nível de consumo. Um jardineiro cobra por seu trabalho 10.000 yens diários. Pelos modos e pelo traje é impossível distinguir um banqueiro de seu chofer, ambos sentados à mesa de um restaurante. Parte ponderável da elite japonesa — entre ela a de grandes empresários — cultiva a vida morigerada. Alguns chegam ã ascese.
Ouvimos respostas das mais variadas ã nossa intrigante questão. Para uma professora, o socialismo não deve ser buscado em Cuba, mas no Japão.
viernes, 5 de junio de 2009
domingo, 17 de mayo de 2009
O japonês no seu espaço
Não se compreenderá o Japão, quer em suas realizações, quer em seus problemas, sem se ter presente um fato que salta à vista quando se visita o país: há multidões de japoneses em todos os lugares do Japão. Nas ruas, nas escolas, nos hotéis, nos trens, nos metrôs, nos museus, nos restaurantes, nas lojas. E uma imagem universalmente familiar a de funcionários de luvas brancas ensardinhando passageiros nos metrôs nos horários de congestionamento. Mas isto é apenas um paroxis-mo do fato cie haver japoneses lotando todos os espaços disponíveis do Japão.
Só não há filas exasperantes porque tudo se processa com alta organização, disciplina e velocidade. Ajudadas pela máquinas e pela automação, inclusive as pessoas funcionam com a precisão de cronômetros sincronizados para corridas de 100 metros rasos. Os trens chegam e partem a 200 km horários com pontualidade de minutos e os vagões numerados abrem suas portas em lugares assinalados por faixas nas imensas plataformas das estações.
Isto vem de longe.
Já em 1700 o Japão tinha uma população de 25 milhões de pessoas — uma densidade de 66 habitantes/km - (a cio Brasil de hoje é de 15 habitantes/km2). Numa área utilizável que não chega à metade da superfície do Estado de São Paulo, o Japão abriga atualmente uma população de 125 milhões, pouco inferior à brasileira. Isto corresponde a uma densidade bruta de 320 habitantes/km2, número ilusório, pois 70% do território japonês são tomados por montanhas recobertas de florestas. Resulta que em Tokyo a densidade é cie 5.000 habitantes/km -, cerca de 200 m2 para cada japonês, suas habitações, edifícios, estradas, fábricas e tudo o mais.
Assim, cada em2 do país milenar vem sendo lapidado pelas sucessivas gerações de japoneses. E, de outro lado, explica-se a extrema disciplina. A média nacional das casas-próprias no japão, na sua maioria amigas, herdadas, construídas há décadas, e de 100 m; a das casas alugadas, de construção mais recente, é de 40 m. Para escândalo universal, constroem-se nas cidades populosas apartamentos compactos de 9 m e nas estações de metro se instalaram sarcõlagos acrílicos onde passam a noite japoneses que perderam o último trem.
Só não há filas exasperantes porque tudo se processa com alta organização, disciplina e velocidade. Ajudadas pela máquinas e pela automação, inclusive as pessoas funcionam com a precisão de cronômetros sincronizados para corridas de 100 metros rasos. Os trens chegam e partem a 200 km horários com pontualidade de minutos e os vagões numerados abrem suas portas em lugares assinalados por faixas nas imensas plataformas das estações.
Isto vem de longe.
Já em 1700 o Japão tinha uma população de 25 milhões de pessoas — uma densidade de 66 habitantes/km - (a cio Brasil de hoje é de 15 habitantes/km2). Numa área utilizável que não chega à metade da superfície do Estado de São Paulo, o Japão abriga atualmente uma população de 125 milhões, pouco inferior à brasileira. Isto corresponde a uma densidade bruta de 320 habitantes/km2, número ilusório, pois 70% do território japonês são tomados por montanhas recobertas de florestas. Resulta que em Tokyo a densidade é cie 5.000 habitantes/km -, cerca de 200 m2 para cada japonês, suas habitações, edifícios, estradas, fábricas e tudo o mais.
Assim, cada em2 do país milenar vem sendo lapidado pelas sucessivas gerações de japoneses. E, de outro lado, explica-se a extrema disciplina. A média nacional das casas-próprias no japão, na sua maioria amigas, herdadas, construídas há décadas, e de 100 m; a das casas alugadas, de construção mais recente, é de 40 m. Para escândalo universal, constroem-se nas cidades populosas apartamentos compactos de 9 m e nas estações de metro se instalaram sarcõlagos acrílicos onde passam a noite japoneses que perderam o último trem.
lunes, 27 de abril de 2009
Signo de contradição
Mishima Yukio (1925 I970) situa-se no ponto de confluência cultural onde. desde 1853, e notadamente a partir de 1868. com a restauaçào Meiji. se embatem as forcas da niponicidade e as da ocidentalizaçao. Esse drama, vivído por todo o Japão e cada japonês, alcançou seu clímax com o confronto bélico de 1941-45 e seus desdobramentos, e há poucas figuras que, achando-se no centro do furacão, como Mishima, se tenham tornado mais simbólicas desse conflito do que ele. Rematado e sincero histrião, ele conheceu iodas as contradições, representou todos os papéis, quis viver e viveu no centro do palco. Com seu teatral seppuku (haraquiri) público de 1970, no mesmo ano em que o Japão recuperava sua preeminéncia mundial como expressão de modernidade ocidentalizada. Mishima voltou a colocar perante cada japonês o problema da niponicidade versus cosmopolitismo ecumênico. Não é de estranhar que haja dividido todas assopiniões, transformando-se em desconfortável enigma para os japoneses e um dos assun-tos-fabu do Japão.
Un dos biógrafos ocidentais que mais conheceram Mishima na intimidade disse que não existia no Japão ninguém tão ocidentalizado como ele; não obstante, toda a sua vida e seu comportamento estão regidos pelos valores e cânones da mais pura niponicidade. Ele foi um campeão em ambas as pontas, dando-se plena conta do que havia de contraditório nessa situação, e foi aplaudido c vaiado a um sé) tempo pela sinceridade de sua ambivalência.
Tenia se decidido, afinal, trocando a duplicidade de um antagonismo penoso por uma radical niponicidade, que desejou exprimir espetacularmente por seu seppuku? Para a maioria dos japoneses, que niponicamenie vêm harmonizando na prática os contrários que existem numa suposta antinomia entre o Japão e o Ocidente. Mishima coloca a questão em termos radicais e absurdos. Palhaço? Ou herói? Ou ambos? Os japone ses dão de ombros; alguns o veneram, outros o desprezam. Difícil é varrê-lo da memória. Esquecé-lo. fazer de conta que ele não existiu. Nem seu gênio, a um tempo patético e grotesco.
Muito constrangedor.
Um dos mais orgulhosos japoneses que encontrei no Japão, contemporâneo de Mishima, a quem me atrevi perguntar o que pensava dele, não teve dúvidas em confrontar-se com Mi shima, sentindo necessidade, entretanto, se justificar a corre ção do caminho que escolhera, de ser moderno e estar em paz consigo próprio:
"— Eu paguei minha divida ao Japão. Lutei na guerra. Fui tripulante de um small boat torpedeiro. Agora, estou aqui i oque o Japão precisa. Eu sigo o caminho"
Insinuava claramente que ao fugir ã convocação do servi ço militar mediante uma fraude, Mishima não cumprira seu dever, e, assim, seu seppuku não fora mais que o resgate falso de uma dívida (on) que não podia ser paga dessa forma.
Um chofer me disse que não se interessava muito por Mi shima. Acrescentou, porém: ' - Acho que ele amou demais o Japão."
— Vivo — completou um dos meus acompanhantes —. dividiu as opiniões. Morto, está sendo aceito
Aceito? Uma senhora falante, a quem colocamos a questão, emudeceu. Fez de conta que não ouviu. Aceito? Sim: como o signo de contradição que foi a vida toda.
Un dos biógrafos ocidentais que mais conheceram Mishima na intimidade disse que não existia no Japão ninguém tão ocidentalizado como ele; não obstante, toda a sua vida e seu comportamento estão regidos pelos valores e cânones da mais pura niponicidade. Ele foi um campeão em ambas as pontas, dando-se plena conta do que havia de contraditório nessa situação, e foi aplaudido c vaiado a um sé) tempo pela sinceridade de sua ambivalência.
Tenia se decidido, afinal, trocando a duplicidade de um antagonismo penoso por uma radical niponicidade, que desejou exprimir espetacularmente por seu seppuku? Para a maioria dos japoneses, que niponicamenie vêm harmonizando na prática os contrários que existem numa suposta antinomia entre o Japão e o Ocidente. Mishima coloca a questão em termos radicais e absurdos. Palhaço? Ou herói? Ou ambos? Os japone ses dão de ombros; alguns o veneram, outros o desprezam. Difícil é varrê-lo da memória. Esquecé-lo. fazer de conta que ele não existiu. Nem seu gênio, a um tempo patético e grotesco.
Muito constrangedor.
Um dos mais orgulhosos japoneses que encontrei no Japão, contemporâneo de Mishima, a quem me atrevi perguntar o que pensava dele, não teve dúvidas em confrontar-se com Mi shima, sentindo necessidade, entretanto, se justificar a corre ção do caminho que escolhera, de ser moderno e estar em paz consigo próprio:
"— Eu paguei minha divida ao Japão. Lutei na guerra. Fui tripulante de um small boat torpedeiro. Agora, estou aqui i oque o Japão precisa. Eu sigo o caminho"
Insinuava claramente que ao fugir ã convocação do servi ço militar mediante uma fraude, Mishima não cumprira seu dever, e, assim, seu seppuku não fora mais que o resgate falso de uma dívida (on) que não podia ser paga dessa forma.
Um chofer me disse que não se interessava muito por Mi shima. Acrescentou, porém: ' - Acho que ele amou demais o Japão."
— Vivo — completou um dos meus acompanhantes —. dividiu as opiniões. Morto, está sendo aceito
Aceito? Uma senhora falante, a quem colocamos a questão, emudeceu. Fez de conta que não ouviu. Aceito? Sim: como o signo de contradição que foi a vida toda.
domingo, 15 de marzo de 2009
O milionário de calças "jeans"
Em Utsonomiya tivemos de fazer uma escolhia difícil: visi-tar ou Nikko ou Mashiko. Nikko é um museu-santuário monumental, jazigo dc Tokugawa Teyasu, onde se reúne e cultua :i memória deste que, unificando o Japão sob a linhagem do terceiro shogunato (1000-1868), proporcionou dois séculos c meio de paz ao Japão. Mashiko é um dos principais núcleos de ceramistas do Japão. As distâncias se eqüivaliam. Optamos irreverentemente por Mashiko, já porque no dia anterior havíamos visto a exposição do museu histórico local (que referimos em tópico separado), já porque nosso programa previa a visita a numerosos outros templos e museus.
A qualidade da argila de Mashiko fez com que lá se concentrassem cerca de 350 ceramistas. entre eles Tatsuzo Shima-oka. um dos grandes de sua arte no Japão, com exposições e prêmios mundiais. Por ocasião de nossa visita, na praça central da pequena e espalhada aldeia, hoje ponto dc visitação turística equipado com o mais moderno conforto, no salão do edifício central se exibia uma exposição cie artistas de técnicas e estilos os mais variados: dos mais tradicionais ao moderno-so descabelado. Nossa visita se concentrou, porem, nas instalações de Tatsuzo, cujas oficinas e fornos se acham à volta de sua antiga casa dc madeira, de estilo nipònico, ã meia-encos-la de um morro que olha para o moderno centro de Mashiko.
Ele nos recebe à porta de sua casa ern mangas de camisa, calças jeans e sandálias havaianas. Serve-nos o chá costumeiro, mostra-nos catálogos de suas exposições, conduz-nos às oficinas, depois aos fornos. Tudo singelo, rústico, não mais que dois ajudantes que há dezenas de anos aprendem o ofício com o mestre. O corriqueiro de sua produção se concentra em algumas dezenas de modelos de utensílios caseiros que reproduzem em cada peça formas e ornamentos de sua criação artesanal. O mestre se dedica a obras singulares, peças únicas, sem reprodução, nas quais continua a exercer sua atividade criadora. Mesmo as peças seriadas, as mais simples, produzidas uma a uma — simples canecas para chá — alcançam com sua assinatura preços-piso de 30 a 40 mil yens. Se da artesania de passasse a labricação poderia se transformar em milionário. Mas Tarsuzo não quer se transformar em millonario. Nos o compreendemos. E talvez seja por isso e nada mais a vinda nos presenteia mm tinas peças suas.
A qualidade da argila de Mashiko fez com que lá se concentrassem cerca de 350 ceramistas. entre eles Tatsuzo Shima-oka. um dos grandes de sua arte no Japão, com exposições e prêmios mundiais. Por ocasião de nossa visita, na praça central da pequena e espalhada aldeia, hoje ponto dc visitação turística equipado com o mais moderno conforto, no salão do edifício central se exibia uma exposição cie artistas de técnicas e estilos os mais variados: dos mais tradicionais ao moderno-so descabelado. Nossa visita se concentrou, porem, nas instalações de Tatsuzo, cujas oficinas e fornos se acham à volta de sua antiga casa dc madeira, de estilo nipònico, ã meia-encos-la de um morro que olha para o moderno centro de Mashiko.
Ele nos recebe à porta de sua casa ern mangas de camisa, calças jeans e sandálias havaianas. Serve-nos o chá costumeiro, mostra-nos catálogos de suas exposições, conduz-nos às oficinas, depois aos fornos. Tudo singelo, rústico, não mais que dois ajudantes que há dezenas de anos aprendem o ofício com o mestre. O corriqueiro de sua produção se concentra em algumas dezenas de modelos de utensílios caseiros que reproduzem em cada peça formas e ornamentos de sua criação artesanal. O mestre se dedica a obras singulares, peças únicas, sem reprodução, nas quais continua a exercer sua atividade criadora. Mesmo as peças seriadas, as mais simples, produzidas uma a uma — simples canecas para chá — alcançam com sua assinatura preços-piso de 30 a 40 mil yens. Se da artesania de passasse a labricação poderia se transformar em milionário. Mas Tarsuzo não quer se transformar em millonario. Nos o compreendemos. E talvez seja por isso e nada mais a vinda nos presenteia mm tinas peças suas.
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miércoles, 4 de marzo de 2009
Os "kami" de Nara
Há poucos testemunhos mais eloqüentes e encantadores tia integração do japonês com a natureza e da resposta da natureza ao amor que o japonês lhe dedica do que o oferecido pelos veadinhos de Nara, que moram soltos no parque do santuário Tòdaiji. liles aí estão há séculos, talvez desde quando esse santuário budista foi construído. O avanço da civilização não os expulsou de seu hãbitat: eles não só aprenderam a tirar proveito prático da presença do homem mas também adotaram o que ele tem de mais alto, que é a civilidade nas relações com seus... "dissemelhantes". Fm outras palavras, aderiram à filosofia nipônica da "harmonia dos contrários", que não vè oposição mas complementaridade e enriquecimento recíproco na convivência entre coisas e seres distintos ou até antagônicos. Os japoneses os elevaram à dignidade de kami (divindades, seres superiores, sagrados).
Atravessando o enorme íoríi (portal), multidões correm -como rios pela larga avenida, hoje asfaltada, que conduz ao templo principal. Ao longo das calçadas enfileiram-se barracas de quinquilharias, souvenirs, e também de alimentos e refeições ligeiras. Dezenas de veados, velhos, adultos, jovens e filhotes, se acham no parque, andando, parados, reelinados, repousando.
Suzana, minha mulher, aproxima-se da guia da calçada. Acena com uma bolacha. Três veados se aproximam. Vem um pequeno, à frente, mais rápido, aproxima-se e apanha a oferta como a uma hóstia de comunhão. Aproxima-se em seguida o gamo jovem, li a primeira coisa que faz, como qualquer japonês ao se dirigir a outra pessoa, é executar uma ojigi (reverência de cabeça). Três vc7cs. Suzana entende: ele eslá exprimindo amaeru, expectativa de benevolência, testemunho de amor. Retribui a reverência ao kami-sama ("dom" kami). Dá-lhe o petisco. Ele repete as reverências mas não aceita nova bolacha. Parece apenas agradecer, pois em seguida se afasta discretamente, como fazem os japoneses.
Os pequeninos, como as crianças japonesas pequenas, acham que não precisam, ou ainda não aprenderam a fazer a ojigi. Os velhos, de longe, apreciam e parecem aprovar as boas maneiras tios jovens. Mesmo daqueles que rejeitam bolachas por estarem fartos delas, e aceitam sanduíches.
A cena se repete quando saímos do parque, com outros animais. Para não nos mostrarmos menos educados que eles, retribuímos suas reverências. Os japoneses que passam riem conosco. Os velhos gamos acenam suas cabeças aprovadora mente Buda, também, deve estar sorrindo.
Atravessando o enorme íoríi (portal), multidões correm -como rios pela larga avenida, hoje asfaltada, que conduz ao templo principal. Ao longo das calçadas enfileiram-se barracas de quinquilharias, souvenirs, e também de alimentos e refeições ligeiras. Dezenas de veados, velhos, adultos, jovens e filhotes, se acham no parque, andando, parados, reelinados, repousando.
Suzana, minha mulher, aproxima-se da guia da calçada. Acena com uma bolacha. Três veados se aproximam. Vem um pequeno, à frente, mais rápido, aproxima-se e apanha a oferta como a uma hóstia de comunhão. Aproxima-se em seguida o gamo jovem, li a primeira coisa que faz, como qualquer japonês ao se dirigir a outra pessoa, é executar uma ojigi (reverência de cabeça). Três vc7cs. Suzana entende: ele eslá exprimindo amaeru, expectativa de benevolência, testemunho de amor. Retribui a reverência ao kami-sama ("dom" kami). Dá-lhe o petisco. Ele repete as reverências mas não aceita nova bolacha. Parece apenas agradecer, pois em seguida se afasta discretamente, como fazem os japoneses.
Os pequeninos, como as crianças japonesas pequenas, acham que não precisam, ou ainda não aprenderam a fazer a ojigi. Os velhos, de longe, apreciam e parecem aprovar as boas maneiras tios jovens. Mesmo daqueles que rejeitam bolachas por estarem fartos delas, e aceitam sanduíches.
A cena se repete quando saímos do parque, com outros animais. Para não nos mostrarmos menos educados que eles, retribuímos suas reverências. Os japoneses que passam riem conosco. Os velhos gamos acenam suas cabeças aprovadora mente Buda, também, deve estar sorrindo.
lunes, 23 de febrero de 2009
No encalço das ama
Quem já não ouviu falar das ama, as pescadoras de perolas, mergulhadoras extraordinarias que isoladas em ilhas remotas. na comunidade de pequenas aldeias, vivem a pobreza aventurosa, romantica e lotérica de arrebatar joias que as ostras escondem no fundo dos oceanos?
De Toba, talvez o mais aristocratico centro de lazer do Japão, fomos de carro, por estrada asfaltada, ha poucos anos recortada no flanco das montanhas, ao encontro da ilha das Pe-rolas. Inesquecivel trajeto.
Do continente (ou melhor, da ilha de Honshu) se cruza o braço de mar para a "Mikimoto Pearl Island" por uma passare-la-toldo de seus 200/300 metros. carpetada no piso, envidraça-da nos lados... depois de se comprar um ingresso e atravessar uma borboleta. Chega-se a um patio apedriscado, rodeado dc incaracterísticas construçoes ultramodernas, onde se destaca sobre um pedestal uma estatua de bronze de Kokichi Mikimoto, o inventor do processo dc cultivar pérolas.
A ilhia das Pérolas é um ilhote inteiramente urbanizado e ajardinado. que se abarca com a vista e mais parece simples ancoradouro. Procura-se para cá e para lá e chega-se a um salão enormc, onde, sentado em poltronas de vime, se olha o mar encostado as lundaçoes. De um pequeno balção a atenden-le nos pergunta em que língua desejamos ouvir a explicação do show das ama: inglês, trancês, espanhol, alemão, russo... — ou chinês?
— Show?
Faltavam 10 para as 4. As quatro em ponto, um barco cabinado e envidraçado se aproxima. Para a uns cinco metros de onde estamos. As ama, com suas camisolas brancas e óculos de mergulho, lançam ao mar seus cestos. Saltam, meia-dúzia delas, para o mar. Mergulham. Voltam a superficie, lançam nos cestos as ostras que colheram. Assobiam, tomam fôlego, voltam a mergulhar. Dez minutos após encerra-se o show, sobem de volta ao barco. Podemos reencontrá-las a saída, sob um rancho envidraeado, com camisolas brancas secas, trocadas, onde se acham a disposição para se deixarem fotografar com "os turistas".
Decepcionante? Não. Pior que isso. Mistificante. Das ama não sobrou senão o assobio pungente e nostálgico — "elegia do mar" — com que reequilibram o fôlego e, se diz, imploram graças aos deuses.
A saída. dirigimo-nos a um coffee-sbop. Continuamos de olhos arregalados. E sob nossos olhos, a jovero que nos prepa-ra um express tem nos sens gestos a precisão, a graça, a delicadeza de quem oficia uma cerimônia do chá.
Não. O Japão não se desniponizou. Continua, nos assobios das ama e na graça das garçonetes, para quem tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir.
De Toba, talvez o mais aristocratico centro de lazer do Japão, fomos de carro, por estrada asfaltada, ha poucos anos recortada no flanco das montanhas, ao encontro da ilha das Pe-rolas. Inesquecivel trajeto.
Do continente (ou melhor, da ilha de Honshu) se cruza o braço de mar para a "Mikimoto Pearl Island" por uma passare-la-toldo de seus 200/300 metros. carpetada no piso, envidraça-da nos lados... depois de se comprar um ingresso e atravessar uma borboleta. Chega-se a um patio apedriscado, rodeado dc incaracterísticas construçoes ultramodernas, onde se destaca sobre um pedestal uma estatua de bronze de Kokichi Mikimoto, o inventor do processo dc cultivar pérolas.
A ilhia das Pérolas é um ilhote inteiramente urbanizado e ajardinado. que se abarca com a vista e mais parece simples ancoradouro. Procura-se para cá e para lá e chega-se a um salão enormc, onde, sentado em poltronas de vime, se olha o mar encostado as lundaçoes. De um pequeno balção a atenden-le nos pergunta em que língua desejamos ouvir a explicação do show das ama: inglês, trancês, espanhol, alemão, russo... — ou chinês?
— Show?
Faltavam 10 para as 4. As quatro em ponto, um barco cabinado e envidraçado se aproxima. Para a uns cinco metros de onde estamos. As ama, com suas camisolas brancas e óculos de mergulho, lançam ao mar seus cestos. Saltam, meia-dúzia delas, para o mar. Mergulham. Voltam a superficie, lançam nos cestos as ostras que colheram. Assobiam, tomam fôlego, voltam a mergulhar. Dez minutos após encerra-se o show, sobem de volta ao barco. Podemos reencontrá-las a saída, sob um rancho envidraeado, com camisolas brancas secas, trocadas, onde se acham a disposição para se deixarem fotografar com "os turistas".
Decepcionante? Não. Pior que isso. Mistificante. Das ama não sobrou senão o assobio pungente e nostálgico — "elegia do mar" — com que reequilibram o fôlego e, se diz, imploram graças aos deuses.
A saída. dirigimo-nos a um coffee-sbop. Continuamos de olhos arregalados. E sob nossos olhos, a jovero que nos prepa-ra um express tem nos sens gestos a precisão, a graça, a delicadeza de quem oficia uma cerimônia do chá.
Não. O Japão não se desniponizou. Continua, nos assobios das ama e na graça das garçonetes, para quem tenha olhos para ver e ouvidos para ouvir.
lunes, 16 de febrero de 2009
Rotina, tédio e exaltação
Alguma coisa me irritou no Japão? Sim. Os audiovisuais a que eramos disciplinadamente submetidos nas visitas a maioria dos orgaos públicos e empresas particulares. Não ha conversa pessoal antes disso, talvez porque recebendo tantas visitas os japoneses ja estejam enfarados de repetir as mesmas respos tas gerais as mesnias perguntas gerais. Eles se enfararam antes de nós. Daí o enlatado dos audiovisuais. Depois se pergunta-rá tudo o que se quiser, pelo tempo que se quiser.
"— Practico, né?
Inegavelmente. Entretanto, há uma insoportavel monotonia nessas apreseniaçoes saturadas de comunicologia. como se elas tivessem sido produzidas em serie, a partir do mesmo script, e fossem manufaturadas pela mesma empresa ou organização, não importa para que orgão ou empresa.
De toda a ameneanização do Japão, esta foi a mais enjoativa. De toda a niponização que permanece, como testemunho da insuperavel hospitalidade japonesa, o que mais nos tocou foi enntrar na maioria das nossas visitas a entidades publicas e empresas privadas a bandeira brasileira hasteada nos mastros e presente nas salas em que fomos recebidos.
"— Practico, né?
Inegavelmente. Entretanto, há uma insoportavel monotonia nessas apreseniaçoes saturadas de comunicologia. como se elas tivessem sido produzidas em serie, a partir do mesmo script, e fossem manufaturadas pela mesma empresa ou organização, não importa para que orgão ou empresa.
De toda a ameneanização do Japão, esta foi a mais enjoativa. De toda a niponização que permanece, como testemunho da insuperavel hospitalidade japonesa, o que mais nos tocou foi enntrar na maioria das nossas visitas a entidades publicas e empresas privadas a bandeira brasileira hasteada nos mastros e presente nas salas em que fomos recebidos.
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